Uma das principais obras da história da filosofia é a Crítica da Razão Pura, publicada em 1781 pelo filósofo Immanuel Kant (1724-1804). Um ponto fundamental para entender essa obra é a teoria dos juízos apresentada por Kant logo na introdução. Vamos analisar abaixo o que são os juízos de acordo com o pensamento desse filósofo.
O que são os juízos?
De maneira geral, podemos definir juízo como um processo mental através do qual estabelecemos relação entre conceitos, e a partir disso formamos nossas opiniões e crenças sobre as coisas. Normalmente, fazer um juízo é afirmar algo sobre alguma coisa. Ao fazer um juízo, estamos dizendo que uma determinada característica ou propriedade pertence a um objeto, pessoa ou situação. Por exemplo: "O céu está azul", "A maçã é vermelha", "João é inteligente".
Kant divide os juízos em dois grupos principais.
· Juízos Analíticos: são
também chamados de juízos explicativos. Quando pensamos, por exemplo, em uma
frase que tem sujeito e predicado, podemos dizer que nos juízos analíticos:
o O predicado já está contido no sujeito;
o São verdades necessárias e universais que não dependem da experiência;
o
Exemplo: "Todo triângulo tem três
lados." A ideia de triângulo já traz em si a ideia de que se trata de uma
forma geométrica que possui três lados, a descrição não
acrescenta nada ao sujeito. É uma verdade universal e necessária, porque um
triângulo terá sempre três lados.
· Juízos Sintéticos: o
segundo grupo é o dos juízos sintéticos. Nesse tipo de juízo, o predicado vai
acrescentar algo novo ao sujeito da frase. Eles são sintéticos porque unem,
fazem uma síntese de elementos novos ao sujeito de uma frase. Os juízos
sintéticos vão se dividir em dois tipos:
o
A posteriori: esse
termo latino significa aquilo que vem depois. No caso aqui, isso
significa que o predicado que vai acrescentar algo novo ao sujeito precisa
passar pela experiência sensível. Se alguém lhe estende uma maçã e diz: esta
maçã é doce. Para sintetizar a propriedade de ser doce à maçã, você precisa
experimentar a maçã, você não pode concluir que ela é doce só porque uma pessoa
te disse isso, é necessário a experiência sensível com o objeto para você
comprovar essa afirmação e sintetizar essa informação nova à ideia de maçã, por
isso, essa síntese é a posteriori, porque ela vem depois da experiência.
o
A priori:
a novidade de Kant na análise dos juízos está nos juízos sintéticos a priori. A priori é um termo em latim que significa aquilo
que vem antes. Esse tipo de juízo é sintético porque acrescenta algo novo
ao sujeito, contudo, esse algo novo que é acrescentado, não depende da
experiência sensível, mas sim, de estruturas que já estão presentes na mente do
ser humano. Um exemplo seria a frase: todo evento tem uma causa. É sintético
porque o predicado "tem uma causa" não está implicitamente
contido no conceito de "evento". É uma informação adicional que
estamos atribuindo ao sujeito. É a priori porque não precisamos de
experiência para saber que todo evento tem uma causa. Essa é uma verdade que
consideramos universal e necessária, independente de qualquer observação do
mundo e isso só é possível porque temos em nossa mente uma estrutura mental a
priori, que vem antes de qualquer experiência e que vai ser, para Kant, o
alicerce do nosso conhecimento.
Uma das questões que movimentam o pensamento de Kant ao escrever a Crítica da Razão Pura é a seguinte questão: como são possíveis os juízos sintéticos a priori? Para responder a essa questão, Kant supôs que existiriam em nossa mente estruturas inatas que ele vai chamar de estruturas a priori e que vão possibilitar todo o nosso conhecimento sobre o mundo à nossa volta. A partir dessa questão, Kant começa a analisar como o ser humano percebe e entende o mundo, e essa análise traz consequências para o modo como a filosofia e a ciência entendem o conhecimento, chegando a provocar uma revolução no pensamento.
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