George
Berkeley (1685 – 1753). é conhecido por um tipo de pensamento chamado idealismo
imaterialista ou idealismo subjetivo. Essa forma de pensar desafia a noção de
que existe uma realidade material independente da mente.
Berkeley
contesta a ideia de que existe uma matéria que possui existência própria e
independente do que percebemos pela mente argumentando que a única realidade
que podemos conhecer e que realmente existe é aquela que é percebida pela
mente. Isso é expresso em sua máxima: esse est percipi, uma frase em
latim que significa ser é ser percebido
Como Berkeley
chega a essa conclusão?
Ele
acreditava que a realidade é mental ou feita de mentes, nesse caso, de mentes
humanas e da mente divina de Deus, e nas ideias percebidas por essas mentes. Nessa
realidade mental e ideal, podemos distinguir dois tipos de ideias:
- Ideias Sensíveis: são
as percepções que temos dos objetos através dos sentidos, como cor, forma,
som, textura, etc.
- Ideias Intelectuais: são
as percepções de pensamentos, raciocínios, abstrações, etc.
Tanto uma
ideia sensível quanto uma ideia intelectual, são percebidas diretamente pelas
mentes, tanto humana quanto divina, e Berkeley sustenta que não há necessidade
de supor que essas ideias correspondam a algo externo à mente, nem mesmo as
ideias sensíveis corresponderiam a algo externo e material, porque tudo que
percebemos são as ideias, aquilo que percebemos é a realidade, se o que
percebemos são somente ideias, significa que a realidade não é material e sim
ideal. Os objetos materiais não possuem uma existência independente da mente que
percebe esses objetos.
Isso pode
parecer radical, mas não é tanto assim!
É claro que
Berkeley não acreditava totalmente que não existe algo material fora da mente, o
que ele afirma é que a realidade material não é independente da mente, ela
existe enquanto realidade na medida em que é percebida. Um objeto físico,
como uma caneta, por exemplo, não existe como uma entidade separada da
percepção que temos dela. Por isso, ser é ser percebido. Ou seja, a caneta
existe na medida em que é percebida por uma mente. A existência das coisas está
diretamente ligada à percepção que temos delas. Mas no momento em que deixamos
de percebê-las, elas deixam de existir.
Isso traz
exercícios de pensamento interessantes!
Você
conhece sua casa, os objetos dentro dela, e por viver nela está tão acostumado
com as coisas que estão dentro do seu lar que quando está fora de casa e se
lembra dela, parece que ela tem uma existência independente de sua percepção, e
quando você chega em casa, vai encontrar as coisas como deixou quando saiu.
Mas, e se não for bem assim? E se quando você sai para a rua, a sua casa deixa
de existir? E quando você volta, só parece que ela esteve sempre lá porque você
a percebendo? Parece absurdo? Mas é justamente a argumentação de Berkeley.
Para ele,
os objetos, as coisas só existem enquanto são percebidas. Se você não está em
casa e não a está percebendo, ela não está existindo, só volta a existir a
partir do momento em que você a percebe novamente.
Crítica de
George Berkeley à John
Locke
Parte do
pensamento de Berkeley é uma crítica a um outro filósofo: John Locke.
John Locke
propõe uma distinção entre qualidades primárias e secundárias dos objetos.
Qualidades
Primárias: São características dos objetos que existem
independentemente da percepção humana. Exemplos incluem forma, tamanho,
movimento e extensão. A realidade para Locke é material e os objetos presente
na realidade material apresentam essas características.
Qualidades
Secundárias: São características dos objetos que dependem
da percepção sensorial humana como cor, cheiro, sabor, textura, etc. Para
Locke, as qualidades secundárias são sensações que ocorrem na mente do
observador, não existindo de forma objetiva nos próprios objetos.
Para Berkeley,
essa divisão que Locke faz entre qualidades primárias (que supostamente existem
objetivamente nos objetos) e secundárias (que são percebidas apenas
subjetivamente) não fazem sentido, porque Berkeley considera que todas as
qualidades, tanto primárias quanto secundárias, são percebidas diretamente pela
mente. Não existe uma separação fundamental entre qualidades que existem
objetivamente nos objetos e qualidades que existem apenas na mente do
observador. Ou seja, não existem qualidades independentes da mente do
observador. Por exemplo, a cor de um objeto não está no objeto como uma
propriedade objetiva, mas existe como uma experiência perceptiva que acontece
na mente da pessoa que observa o objeto. Da mesma forma, o tamanho e a forma de
um objeto não existem objetivamente fora da percepção que temos deles.
Berkeley faz
essa crítica à distinção de Locke para dar sustentação à sua visão de um
idealismo imaterialista. A realidade é construída pelas mentes percebendo
ideias, como tudo é percebido pela mente, não há necessidade de supor a
existência de qualidades objetivas nos objetos independente da mente. As
qualidades que percebemos são todas fenômenos mentais, uma separação entre
qualidades que existem objetivamente, fora da mente, e aquelas que existem
subjetivamente, dentro da mente, não faz sentido para Berkeley.
Contudo,
todo esse imaterialismo idealista de Berkeley levanta um questionamento. Para
que o mundo exista, precisa estar sendo percebido constantemente, e não temos
mentes individuais em todo canto do mundo percebendo as coisas. Como então é
possível que o mundo exista?
Para
responder essa questão, devemos saber que Berkeley foi bispo da igreja
anglicana, portanto, Deus desempenha um papel central em sua filosofia. De
acordo com Berkeley, a percepção dos objetos do mundo depende diretamente de
Deus, é Ele quem permite que as mentes percebam as ideias que formam a
realidade. Segundo Berkeley, tudo o que percebemos são ideias e sensações, e
essas ideias são sustentadas na mente divina de Deus. Assim, a existência e a
continuidade das ideias perceptíveis dependem da vontade e da sustentação de
Deus.
Deus não
apenas possibilita a percepção das ideias, mas também garante a consistência e
a ordem do mundo, Ele é um princípio organizador que mantém a conexão entre as
ideias percebidas pelas mentes individuais, proporcionando uma estrutura
coerente para a realidade que percebemos.
Se não
houvesse Deus para sustentar a existência das ideias, elas simplesmente
deixariam de existir e, consequentemente, a realidade deixaria de existir.
Portanto, a continuidade e a coerência das experiências perceptivas e a
estrutura da realidade são garantidas pela ação constante de Deus. De acordo
com Berkeley, Deus percebe tudo o tempo todo, é por isso que o mundo existe
independente se tem mentes individuais percebendo tudo, é a percepção de Deus
que garante que sua casa continue existindo quando você não está dentro dela
percebendo os objetos.
A realidade
é feita de ideias, o que garante sua existência é a constante percepção da
mente divina, e Deus não pode deixar de perceber tudo o tempo todo, pois isso
colocaria, de acordo com Berkeley, fim à realidade, colocaria fim ao próprio
Universo.
Apesar de
todo seu idealismo, Berkeley é considerado um representante do empirismo
britânico. O empirismo defende que não existe nada em sua mente que não tenha
passado pelos sentidos. Por essa definição, pode parecer estranho classificar o
pensamento de Berkeley como empirista. No entanto, Berkeley é um empirista pois
defendia que nada existe independente da percepção. A percepção sensível é
possível porque a realidade exterior à mente é percebida pela mente divina, o
que torna possível a existência palpável das coisas. Contudo, a realidade
continua sendo ideal, pois é percepção de uma mente divina.
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Bons Estudos!