Portanto,
vamos analisar duas definições gerais do que seja Filosofia que são
complementares, e assim poderemos começar a entender melhor o pensamento dos
diversos filósofos. Essas duas definições gerais são:
1) Filosofia como Sistema de Pensamento;
2) Filosofia como Técnica.
Filosofia Como Sistema de Pensamento
Um sistema de pensamento é um conjunto de ideias, conceitos e
categorias utilizados para estruturar e explicar a realidade, para dar sentido
às coisas. É um sistema porque as
ideias dentro dele estão interligadas e é isso que faz com que ele seja um sistema e funcione; é um sistema de pensamento porque conceitos, ideias
e categorias são atributos do pensamento, e porque esse sistema molda o modo
como pensamos sobre as coisas, sobre os outros, sobre a realidade de um modo
geral.
Exemplos de Sistemas de Pensamento
No dia a dia utilizamos, sem perceber, diversos sistemas de pensamento para falar sobre as coisas, para fazer o que precisamos fazer, para nos relacionarmos com a realidade e com os outros. São exemplos de sistemas de pensamento:
· Ciência;
· Religião;
· Senso Comum;
· Mitologias;
· Filosofia.
Existem outros sistemas de pensamento, mas os que foram citados acimas são os que mais utilizamos. O Senso Comum é o mais utilizado de todos. Porque, via de regra, é o primeiro sistema de pensamento com o qual tomamos contato.
Mas, o que é o senso comum?
É um conjunto de conhecimentos e práticas acumulados e transmitidos aos outros; é como se fosse uma tradição passada de geração em geração. Está muito ligado ao conhecimento prático sobre as coisas e a realidade, e muitas vezes funciona melhor do que qualquer teoria. Pode ser também definido como um conhecimento popular, um conjunto de crenças em comum sobre como a realidade funciona. É aquilo que aprendemos no dia a dia, na prática, e não precisamos ficar teorizando sobre ele para obter resultados.
Por exemplo: para uma pessoa atravessar uma rua, ela olha para os dois lados, mas não precisa para e calcular a velocidade média, a distância a ser percorrida etc., ela olha e já sabe se pode atravessar ou não a rua.
Outro exemplo: quando olhamos para um céu carregado de nuvens cinzentas, não precisamos saber sobre meteorologia para entender que logo irá chover. Nossa vivência já nos mostrou várias vezes que, em quase todas as vezes que o céu estava carregado de nuvens assim, houve chuva.
Dentro de cada sistema de pensamento, as coisas são respondidas de determinado modo. Por exemplo, pensemos na questão: por que o mundo existe?
A Ciência nos trará uma resposta de que tudo o que existe no universo resultou de uma explosão primordial há aproximadamente 13,9 bilhões de anos que recebe o nome de Big Bang. Com o tempo o Universo foi se resfriando, os planetas foram se formando — dentre eles o planeta terra. O resto é evolução.
Para a Religião — o Cristianismo, mais especificamente — tudo o que existe foi criado por um ser divino.
Outra característica dos sistemas de pensamento é que eles se subdividem em vários outros subsistemas. Por exemplo: existem diversas áreas do conhecimento que chamamos de ciência: física, química, biologia, neurociência, medicina, psicologia etc., todas essas áreas são subdivisões de um sistema maior que é a Ciência.
O mesmo acontece com a Religião. Existem religiões católicas, evangélicas, africanas, orientais. As diversas religiões que existem também podem ser consideradas subdivisões de um sistema maior que é a Religião.
A Filosofia procura, por uma via racional, entender e explicar os fundamentos da realidade e dos comportamentos, ou seja, ela é um sistema de pensamento que busca dar sentido para aquilo que nos cerca, assim como os outros sistemas. A diferença é uma característica marcante da Filosofia de sempre ir em busca dos fundamentos da realidade ou daquilo que ela investiga, ou seja, ela é radical, porque vai até as raízes do problema.
Você pode perguntar: mas isso também não é uma característica da Ciência?
Não necessariamente. Uma investigação científica se contenta quando soluciona o problema, quando soluciona o mistério de algum fenômeno. A Ciência descreve como as coisas são. Por exemplo, a biologia é uma ciência que tem por objeto de estudo a vida. Ela descreve como são os organismos vivos, como eles surgiram, como um organismo gera outro, como os organismos funcionam, mas ela não responde: por que existe vida?
A física descreve como o Universo se formou e do que ele é composto, mas não responde: por que as coisas existem?
A Filosofia se preocupa com questões mais gerais e abrangentes, ao passo que as ciências se ocupam com questões mais específicas e em descrever como as coisas são. Podemos ainda dizer que a Filosofia se preocupa em saber porque as coisas são, ao passo que a Ciência se preocupa em descrever como as coisas são. Mas é claro que isso é arbitrário. No plano teórico não há muita separação entre Filosofia e Ciência. No plano teórico as duas estão preocupadas com questões gerais. No entanto, no plano prático, a tanto a Ciência quanto a Filosofia se desmembram em subáreas para se ocupar com questões específicas.
Outra característica da Filosofia é que, embora seus resultados não precisem ser comprovados em testes de verificação, como acontece nas áreas da Ciência, seus resultados devem obedecer aos princípios da razão. Ou seja, a Filosofia se fundamenta no pensamento racional (logos) e na lógica para sistematizar o conhecimento que produz.
Como um sistema de pensamento, a Filosofia possui cinco âmbitos, ou cinco grandes áreas que devem se interligar e se complementar para que o sistema funcione. São elas:
· Epistemologia: é uma área que se ocupa com questões sobre o conhecimento: o que é o conhecimento? Como conhecemos? Como podemos ter certeza do que conhecemos? Quais são os modos pelos quais obtemos conhecimento? Quais são as etapas do conhecimento? Qual a origem do conhecimento? Qual é o melhor método para a produção de conhecimento? Etc.
· Ética: é uma área que se ocupa com reflexões acerca do nosso comportamento, sobre o modo como nos relacionamos com os outros. O que é certo e errado? Justo e injusto? Existem comportamentos que são melhores do que outros? Por que nos comportamos de uma forma e não de outra? Etc.
· Política: é a área que se ocupa com questões sobre o modo como organizamos as relações sociais, a sociedade e a realidade. Qual é a melhor forma de governar? Qual é a melhor forma de governo? Por que decidimos eleger governantes? Por que existem os Estados? Precisamos de governo? Etc.
· Estética: é a área que se ocupa com questões sobre como somos afetados pelo modo como a realidade está organizada. Se ocupa com questões sobre beleza, harmonia e afetos.
Como as áreas estão interligadas?
No primeiro campo (metafísica) nos perguntamos sobre os fundamentos da realidade. No segundo campo (epistemologia), perguntamos como conhecemos a realidade? Em seguida (ética) indagamos como nos relacionamos dentro dessa realidade com os outros. No quarto âmbito (política) questionamos qual é a melhor maneira de organizar a realidade de forma que seja bom para todos. E no último estágio do sistema filosófico (estética), indagamos quais são os tipos de afetos que a forma como a realidade está organizada nos causa, se esses afetos são bons ou ruins.
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